Capítulo 49
Os estudos estavam bem intensos, mas gosto do meu curso. O terceiro semestre mal começou e já tinha muito trabalho, isso só com dois meses de aula. O semestre em que estive na Inglaterra, vou fazer depois, sem problema algum. Uma pena é não se formar com a Carina, Junior, Matheus, Marina...
Quase todo o fim de semana eu dormia na casa do Lucas e com isso, comecei a ficar mais perto dos meus melhores amigos, já que antes reclamavam que não os via frequentemente. Eu e o Lucas discutimos hoje, fiquei com ciúme de suas amigas da faculdade. Inclusive, a sua ex, que pra ele não é ex, está grudada demais e por isso, acabamos numa conversa bem chata.
- Tão feliz de ver você com o Luc, amiga! – Isabela me abraçou.
- Eu também. Fiz a coisa certa, não foi? – perguntei. Isabela me olhou preocupada.
- O que houve? Não vai me dizer que...
- Não, amiga – ri fraco – Perguntei por que... Ah, esquece.
- Fala Maria Luisa...
- Não foi nada Isabela! Perguntei a você, já que sempre me implorou voltar com o Lucas.
- Bom, então... Sim, fez a coisa certa. O Lucas mudou, e você viu. Relaxa, não fica preocupada.
- Não estou – sorri – O Thiago está feliz com a Leticia e eu pude ver muito bem quando os vi antes de voltarem para casa.
- Você acha que ele está mesmo feliz?
- Você não acha?
- Não sei amiga. Você o conhece melhor. Mas, ah, não sei. Esquece ok? Não falei nada. Espero que não fique com isso na cabeça. Ainda bem que hoje você vai dormir comigo. Tinha planejado a madrugada no Skype com o Dan, mas deixo para amanhã – sorrimos.
- Estou feliz por você amiga. O Danilo é ótimo – abracei-a.
- Sim. E namorar mesmo distante não está sendo tão ruim quanto aquele meu último namorado. Lembra-se desse? – concordei – Então, com o Danilo é tudo diferente. E quando a gente se vê, conseguimos matar toda saudade! – sorriu – Ainda bem que a agencia dos meus pais também é lá, assim sempre que eles vão e eu posso, dou uma escapadinha. E quando não posso, meus pais dão um abraço neles por mim – rimos.
- Seus pais amam o Danilo!
- Sim! Como diz meu pai: “Garoto bom, responsável, cuidadoso... Esse sim, minha filha. Esse sim!” – rimos – E ele está certo. Danilo é ótimo.
- Te dando mais juízo, não é amiga?! – rimos – Bom... Se quiser, pode ficar um pouco com o Danilo, acabei de ver a chamada dele ali no computador – Isabela virou rapidamente e num pulo ligou a Web Cam.
- Meu amor! Malu tá aqui comigo! – Isabela soltou vários beijinhos na tela. Que fofo de se ver. Depois, dei um tchauzinho e ele retribuiu.
- Oi Malu, saudades de vocês! Manda um abraço pro Lucas, Gabriel e Raquel. Minha linda... Sabe aonde vou semana que vem? De imediato, meus pais me avisaram hoje!
- Conta logo!
- Austrália! – Os dois começaram a gritar de felicidade.
- Meu Deus meu amor! Curta muito! Quantos dias? E suas aulas?
- Sem problemas com isso. Se quiser, você sabe... Tem espaço ao meu lado no avião.
- Não brinca. Sabe que vou – Isabela riu.
- Então vai. Avisa a seus pais – Ele fala tão sério. Isabela me olhou. Finalmente.
- Amiga... O que você acha? – ela mordia os lábios, já nervosa. Olhou pra tela – Danilo, não dá. Eu não tenho como comprar uma passagem agora e...
- Você sabe que não precisa.
- Mas é que...
- Gente, desculpa me intrometer. Eu vou lá ver o Lucas. Podem conversar numa boa agora. Amiga, quando terminar, me chama lá, ok? – sorri, dei tchau para o Danilo e saí do quarto.
- Não vai dormir aqui, Malu? – a mãe da Isabela perguntou.
- Vou sim, tia. É que o Danilo apareceu no Skype para contar novidades à Isa, então, vou deixar os dois um pouquinho e vou ver o Lucas. Volto depois – sorri.
- Esses dois quando começam a conversar no Skype, não param – pai da Isabela disse. Rimos.
- E agora, ele disse que vai pra Austrália. Tá convidando a Isa.
- Daqui a pouco ela desce, pedindo pra ir.
- O senhor vai deixar?
- Quem sabe, Malu. Tanto tempo que a Isa não fica feliz com algum garoto – sorriu – Mas ela estuda, então vou pensar bem no caso dela.
- Devem ser só alguns dias, bobagem. Bom, vou indo. Volto mais tarde.
Fiquei pensando no quanto a Isabela é sortuda, mas depois larguei os pensamentos. Não vale a pena. Toquei na casa do Lucas e ele abriu a porta.
- Veio me ver? – Lucas perguntou sério.
- Não. Eu vim ver sua mãe, ela tá aí? – falei num tom irônico. Claro que eu estava ali para vê-lo.
- Trabalhando no quarto.
- Você vai me deixar entrar?
- Senha.
- 2345678.
- Bééééé! Errado. Duas chances.
- Você nunca me disse que tinha uma senha pra entrar em sua casa. Tá com alguém aí? – coloquei a cabeça um pouco para frente da porta de sua casa, a fim de certificar se havia alguém com ele. Além dos seus pais, claro.
- Não começa...
- Desculpa.
- Senha correta. Pode entrar.
- Idiota.
Lucas riu e me deixou entrar.
- Vou avisar a minha mãe que você quer falar com ela.
- Para.
- Quem precisa parar é você. Com os ciúmes.
- Desculpa.
- Você ainda não confia em mim? Pensei que estávamos indo bem.
- Nós estamos. Desculpa. Senti ciúmes, foi isso.
- Eu sei. Desnecessários. Não posso ter amigas?
- Desculpa. É que a sua ex... A Mariana, Paola, sei lá, todas elas...
- Eu namoro você. Não elas.
- Eu sei. Desculpa. Vamos esquecer. Eu vim lhe ver. A Isabela está no Skype com o Danilo. Ele mandou um abraço.
- Hum.
- Não fica assim comigo. Desculpa.
- Eu te amo.
- Eu te amo muito mais.
Ficamos um tempo nos olhando. Olho no olho, antes do Lucas atravessar seus dedos em meus cabelos e me puxar para perto de si.
- Desculpa sentir ciúmes – falei.
- Desculpo se você me beijar.
- Agora?
- Agora.
Subimos para o seu quarto e aproveitamos muito. Sua mãe estava no quarto e nem tinha me visto por lá, eu acho. E seu pai, ainda ia chegar do trabalho. Depois que recebi a mensagem da Isabela, me despedi do Lucas e fui ficar com a minha amiga. Afinal, vim hoje para vê-la.
- E aí, vai pra Austrália? – perguntei.
- Meu pai disse que amanhã vai ligar pros pais do Danilo e conversa com eles.
- Vai dar certo isso mesmo?
- Por que não daria? Claro que vai!
- Que sorte você tem! Conta mais sobre isso – rimos.
- Ah amiga, ele me disse que vai passar uma semana. Vai segunda e volta domingo. Tenho apenas amanhã pra decidir tudo. Mas, por precaução já estou arrumando minhas coisas –Isa me mostrou a malinha no chão, já com algumas roupas – Ahm... Me ajuda? – fez bico.
- Claro! Como tá a temperatura, você sabe?
- Não deve estar frio. Bom, só quero deixar pronto, por que se meu pai deixar... Só falta a passagem pro Rio. Da Austrália o Dan já tem! UHUL! – rimos – Ah, os pais do Dan vão a trabalho. Mas eu e o Danilo vamos poder aproveitar mais, enquanto eles estão trabalhando. Ai que ansiedade! Espero que ele deixe! Minha mãe o ajuda a convencer. Espero viajar sempre com o Danilo, vamos fazer vários passeios, várias aventuras! Vou largar a faculdade.
- Não exagera Isabela! – rimos – Vamos arrumar logo sua mala. Não esquece, tem que deixar pronto os documentos pra amanhã não ficar procurando tudo. Deixa logo t-u-d-i-n-h-o pronto!
- É amiga! Eu sei, passei por isso uma vez. De ultima hora, lembrei-me do passaporte. Quase perco o voo!
Depois que nós arrumamos tudo da Isabela, ficamos conversando e fomos dormir bem tarde. Fui pra casa logo depois do almoço, pois a mãe da Isabela insistiu que eu almoçasse com eles e sim, Isa vai para Austrália com o Danilo. Viaja ás três para o Rio de Janeiro.
Thiago viaja semana que vem. Onde ele mora não tem aeroporto, então passará a semana aqui, terminando de ajeitar suas malas para viajar na sexta. Junto com a Leticia, não podemos esquecer.
- Vou sentir sua falta – Thiago disse. Estávamos em meu quarto.
- Eu também. Muita.
- Sério? – Thiago riu fraco.
- Por que não? – sorri.
- Não sei. Você está tão feliz agora com o Lucas... Não vai nem se lembrar da minha existência.
- Não fala isso.
- Já disse – rimos.
- Eu penso em você todos os dias.
- Pensa? E pensa o quê, por exemplo? – Thiago sorriu e me fitou.
- Ah... No quanto eu sinto sua falta. Saudades de você todos os dias comigo.
- Como amigos?
- Também – ri fraco – Mas... Ahm... Já arrumou todas as suas malas? E a Letícia, vem quando? – mudei de assunto e o Thiago riu fraco.
- Já entendi... – riu – Ah, arrumei sim. A Leticia só vem na quinta. Eu já fiz todas as minhas malas, por que você sabe... Eu sou muito “organizadinho e responsável”, como certa pessoa sempre me diz – rimos e eu concordei.
- E quem sempre diz isso? – ri alto.
- Uma das pessoas mais importantes da minha vida – sorriu.
- Hum... Sua avó, sua mãe? Eu não sei... – ri fraco.
- Bobinha. Sabe que você é uma das pessoas mais importantes da minha vida. Não sabe? –Thiago me olhou.
- Se você diz... Então eu sei – ri fraco.
- Vou sentir muito a sua falta. Queria tanto que você estivesse viajando comigo.
- Vai ser tão bom lá! Duvido que vá sentir tanto a minha falta – ri fraco – Estará realizando um sonho, ao lado dos seus amigos, sua namorada... Na França! – sorri o apoiando.
- Já disse, sem você não é a mesma coisa.
- Estava tudo tão bem entre nós. Digo... Você feliz com a Leticia, eu com o Lucas... A última vez que esteve por aqui e lhe entreguei os presentes, malmente você tocava nesses assuntos e agora, perto de ir, fica falando isso... Sabe que eu não aguento...
- Não sabia... – riu.
- Pois saiba.
- Desculpa. É que não estava assim tão perto de ter que viajar, e agora... Vou ficar tanto tempo longe... Não me acostumei a ficar sem você. Já é parte de mim. Mesmo que não estejamos juntos, ter você ao meu lado é melhor que qualquer coisa. Tinha pensado até em desistir de ir.
- Você não é louco! – gritei – Não faz isso.
- Não vou fazer, mas... Ah, esquece Malu... Me conta de você agora. Como está seu curso? Seu namoro...
- Estou amando meu curso. Os trabalhos que tenho para fazer são cansativos, mas gosto. E meu namoro está indo bem. E você com a A...
- Leticia? - riu fraco - Muito bem até, mas não é a mesma coisa quando eu e você estávamos juntos.
- Não começa. Vai fazer alguma despedida? Festinha?
- Não. Talvez chame alguns amigos importantes para um jantar ou almoço aqui em casa. Minha mãe pensou nisso e já deu o dinheiro para vovó comprar as coisas, mas não sei se quero.
- Claro que quer! Avisa a sua avó que você vai sim, fazer! Convida poucos, mas os amigos mais próximos.
- Vou chamar a Camila, Gustavo, Carol, Leo, Igor, Miguel, Jade, Patrick... Não sei... Talvez uns amigos da faculdade. Lucas, se quiser, pode trazer.
- Não. Acho que... Acho que ele não vai se sentir bem. Bom, os convidados estão ótimos. Depois você manda mensagem pra eles.
A vovó insistiu que o Thiago ficasse para jantar conosco.
- Tudo pronto pra viagem? – Gustavo perguntou.
- Malas, documentos... Sim. Meu coração, ainda não – riu fraco.
- Profundo – Gustavo riu – O coração nunca está preparado, essa é a verdade. Mas passa rápido, amigo.
- Já fiz um ano e meio de curso aqui, ainda faltam mais três anos e meio e eu não sei se quero passar tanto tempo lá. Por recomendações, nós vamos ter aulas de francês, mas claro, que com o nosso bom inglês, vamos nos virar bem por que é língua universal. Só que sinceramente... Sem a Malu... Não. É parte de mim, e já não consigo fazer mais nada sem ela por perto. Mas vai dar tudo certo eu tenho certeza.
- Awn... – vovó e Gustavo riram - Sério cara... Desencana da Malu, mesmo namorando outra você ainda pensa nela! Coitada da Leticia – riu.
- Gosto muito da Leticia. Ela é uma ótima amiga, companheira... É carinhosa, bem humorada, muito boa em tudo. Mas, não sei. Sabe quando você sente que não é a mesma coisa que seu antigo relacionamento?
- Não. Mas compreendo – riram. Eu só escutando. Mas calada.
- Eu sinto cara... E não é bom. Mas enfim, vamos vivendo um dia de cada vez. Volto rápido. Quem sabe a pessoa que eu quero muito vá me visitar? –Thiago olhou pra mim sorrindo. Sorri de volta.
- Quem sabe... – respondi.
- Quem sabe o casamento não seja lá? – vovó disse nos fazendo rir.
- A gente convida todo mundo, manda passagem... Vai ser tipo Brangelina – rimos.
- Vocês estão sonhando alto demais – ri fraco – Thiago... É horrível pensar essas coisas com uma namorada tão legal que nem a Leticia. Eu não gostaria nada de saber que namoro alguém que pensa em outra.
- Essa outra é você. Por que se importa?
- É errado.
- Me poupe Malu.
- É errado.
- Não tenho culpa se te amo tanto e não consigo te esquecer. Eu vou indo, Dona Tereza. Vou ficar com a vovó até quarta. Depois vamos pra casa de meus pais, vai ter um jantar de despedida. A senhora está convidada. Gustavo também. Maria Luisa, claro. Se quiser.
- Ah Thiago, para! A gente conversou sobre isso lá no quarto e... Esquece, não quero brigar.
Thiago suspirou fundo, levantou, colocou seu prato vazio na pia e se direcionou a sala.
- E a sobremesa meu anjo? – vovó perguntou com um sorriso amável.
- Fica pra próxima, Dona Tereza. Desculpa... – Thiago abriu a porta – Tchau, uma boa noite – e saiu. Fiquei com vergonha de ter dito aquilo, mas foi o certo, talvez.
- Qual seu problema?! – Gustavo perguntou.
- Disse a verdade. É errado, você sabe.
- Você também faz isso, não nega.
- É diferente. Não saio divulgando para o mundo.
- Vou subir. Tenho que me arrumar, vou para o cinema com a Camila. Pegamos a sessão da meia noite.
- Cinema meia noite? Vão assistir ao filme? Ok... – ri.
- Camila está louca pra ver o filme. Melhor horário é esse...
- Hum... – rimos – Vai lá. Eu vou... Dormir. Bom filme.
- Ei... Não fica assim, ok? Tudo vai se resolver com o Thiago. E ele volta.
- Por mim ele fica pra sempre na França. É bom que me esqueça.
- Não fala isso!
- Não toma as dores, Gustavo. Vai assistir o seu filme. Tchau.
- Vou me arrumar ainda. Sabe o que você deveria fazer? Arranja um jeito de estudar na França também. Deixa o Thiago ir, depois você aparece lá...
- Larga de invenção! Estou com o Lucas e vou ficar com o Lucas. Thiago é passado.
- Não é o que parece. E você muda rápido de opinião.
Gustavo subiu para se arrumar e eu sentei no sofá. Emburrada. Fiquei vendo o filme que passava na TV até pegar no sono. Quando acordei, estava na cama. Não lembro como acordei já na cama... Só quem fazia isso comigo, era o meu pai.
- Vó... Como vim parar na cama? Lembro perfeitamente de dormir no sofá ontem – perguntei a vovó enquanto tomava café da manhã.
- Foi o Gustavo. Quando ele chegou do cinema tarde da noite te viu no sofá dormindo e te carregou até o quarto.
- Ah... Pensei ter sido outra pessoa.
- Não mora ninguém além de nós aqui – riu – E eu, você sabe... Não ia conseguir lhe carregar – rimos.
- É... Pergunta meio boba... E cadê o Gus?
- Dormindo. Quando ele chegou eu levantei pra falar com ele, era duas e meia da manhã. Não deixo mais os dois saírem tarde da noite.
- Provavelmente o filme terminou esse horário. Quero que ele me conte detalhes desse cinema – rimos.
Hoje é um dos piores dias. Thiago está embarcando pra França, onde vai passar três anos. Na quarta, sua avó fez um almoço delicioso de despedida, e foi um momento muito divertido, não estávamos pensando em sua viagem. Mas hoje, assim que acordei, lembrei-me de que iria me despedir do Thiago no aeroporto.
- Tudo bem amiga? – Camila chegou lá em casa, estava terminando de colocar meu vestido. Mas a minha vontade, era de ficar em casa chorando e não ir me despedir.
- Eu estou me sentindo um pouco mal.
- Vai passar rápido. Também vou sentir muita falta do Thi.
- Eu sei.
- Não quer conversar?
- Não. Acho que não vou ao aeroporto. Pensando bem, não vale a pena. Pode ir sem mim com o Gus.
- VOCÊ NÃO É LOUCA! – gritou – VESTE LOGO A MERDA DESSE VESTIDO E VAMOS PARA O AEROPORTO – suspirou – Desculpa amiga... Thiago vai ficar mal se você não aparecer.
- Foram quatro anos. E pra mim, enquanto estava com ele, mesmo nos momentos complicados, eram os melhores. E agora não sei o que vai ser. Tudo que eu faço lembra o Thiago. TUDO! Não importa se estamos separados, ainda éramos amigos, apesar de tudo...
- Não pensa assim... Pensa que vai passar voando e a gente pode visita-lo nas férias! Veste esse vestido e vamos, por favor. Falta meia hora pro Thiago viajar e ele já estar no aeroporto.
Vesti a roupa calmamente e penteei o cabelo. Coloquei a sandália mais próxima que vi e desci com a Camila. Minha expressão não era das melhores.
- Vamos? – Gustavo disse levantando do sofá.
- Que tal só vocês? Eu telefono pra ele e me despeço por aqui...
- Eu posso bater na sua neta, dona Tereza? – Camila disse fazendo a vovó rir.
- Maria Luisa, larga de besteira. Thiago volta, pensa que vai ser bom pra ele estar lá...
- Claro que penso nisso, vovó. Mas e a minha saudade?
Ninguém respondeu. Gustavo abriu a porta e o pessoal seguiu. Continuei parada. Camila voltou e me puxou.
- Deixa de ser infantil, Maria Luisa. Não estamos lhe obrigando a ir, mas pensa no Thiago.
Ela está certa. Seguimos até o aeroporto no carro do Gustavo. Quando chegamos à área de embarque, encontramos seus pais, Dona Dalva, Letícia com a sua família – droga, havia me esquecido que a alienígena ia viajar com ele. Desculpa, voltei a chama-la assim, mas não resisti -, seus outros colegas que também viajariam estavam com suas famílias, Carol, Patrick, Leonardo... Quando aparecemos, o sorriso do Thiago foi a melhor coisa do dia.
- Pensei que vocês não viriam – Thiago disse com um sorriso fraco. Me olhando.
- Briga com a teimosa da Maria Luisa. Ela atrasou tudo – Camila disse.
- Sempre Malu... – riram.
- Mas não foi isso... Ela não quis v... – tampei a boca da Camila.
- Que horas você vai? – perguntei.
- Ahm... Daqui uns... – Thiago olhou no relógio – Dez minutos.
- Meninos... Vamos? Melhor vocês irem se despedindo do Thi, por que vamos seguir logo...
Ficamos juntos do pessoal e cada um fez a sua despedida. Enquanto se despediam doThiago, fui falar com a Letícia e dei boa sorte aos outros que também seguiam para França.
- Boa sorte na França, Letícia. Lá é realmente incrível! - sorri e abracei-a – Não que eu tenha ido, mas vendo em fotos, a gente sabe o quanto é maravilhoso.
- Verdade. Obrigada, Maria Luisa. Vai ser maravilhoso mesmo, eu espero... Ahm... Não fica triste pelo Thiago, ok? Vai passar bem rápido, e aposto que você terá um tempo em suas férias para visitá-lo – Oi?! Ela me dizendo isso?!
- Sim... Vai passar rápido – sorri fraco – Eu vou me despedir logo do Thi... Por que falta pouco para o embarque.
Só faltava eu, para falar com o Thiago. E a hora é essa.
- Então... – ele disse.
- Vou sentir sua falta. Muito. – rimos.
- Então me abraça bem forte. Esquece todas as pessoas que estão aqui no aeroporto. Preciso sentir seu corpo, seu cheiro... – não aguentei ouvi-lo dizer isso, comecei a chorar, então o abracei forte. - Eu te amo muito. Volto o mais rápido que você imagina. E nós vamos ficar juntos, casar e ter lindos filhos – rimos.
- Eu também te amo muito, muito, muito. Não se preocupa, vou estar aqui ainda, a sua espera. Aproveita muito a França, espero te visitar.
- Espero o mesmo. Agora... – nos retiramos do abraço – Tenho que ir. A vovó está na frente só me esperando pra irmos – rimos.
- Tudo bem. Até mais... – Thiago beijou minha testa e saiu. Fiquei só observando ele seguindo e imaginando quando vou vê-lo de novo. Só daqui a três anos e meio. Provavelmente. Agora, ele já estava de mãos dadas com a Ali... Letícia.
- Falsidade do caramba! – eu disse num tom grosso e a Camila riu.
- Calma amiga! – Camila disse ainda aos risos.
- Fala coisas lindas no meu ouvido e depois fica de mãos dadas com a outra! – lágrimas desciam sem parar ainda.
- Baixa a bola, você namora o Lucas – Gustavo chegou se intrometendo. O que mais faz.
Cheguei em casa muito mal, e abraçada com a vovó. Quem estava me esperando na porta de casa era o Lucas.
- Oi Lucas! Tem muito tempo esperando? – vovó perguntou abraçando-o.
- Não, Dona Tereza, faz cinco minutos... O que houve, Malu?
- Thiago foi hoje para a França. Fomos ao aeroporto nos despedir – Camila respondeu por mim, mas Lucas continuava a me olhar.
- Havia esquecido o dia que ele ia embora... – Lucas disse.
- Ele volta em três anos – respondi.
- Lucas... Cara... Acho melhor você voltar outra hora, ou outro dia... Maria Luisa não está bem – Gustavo disse.
- Você agora tem defensores? – Lucas disse ríspido – Então tá. Continue sofrendo peloThiago que tá lá na França feliz da vida com a namorada. Se não quer que eu cuide de você, já que sou seu namorado, beleza.
- Lucas... Tenta compreender! – Camila disse. Não queria mais confusão, então entrei e fui tomar um banho. Nem falei com o Lucas. Hoje eu não quero mesmo.
- Amiga, conversei com o Lucas. Quase brigamos! O garoto não entende mesmo... Enfim. Depois de um tempo ele compreendeu a sua tristeza e disse que depois te liga – Camila chegou ao meu quarto enquanto eu escolhia uma roupa confortável para vestir – Já melhorou?
- Sim. Só não estava com saco para falar com ele hoje, eu sei que íamos brigar... – Camila deitou na cama e pegou um livro que estava em cima.
- Me empresta depois? Soube que esse livro é lindo! – assenti.
- Amiga, olha essa caixa... – peguei uma caixa preta escrito “Always In My Heart” e coloquei sob a cama. Camila levantou-se e me olhou – Coisas minha e do Thiago. Uma caixa bem secreta. Você é tão especial pra gente, amiga, por isso vou te mostrar – rimos.
- ‘Always In My Heart... Yours Sincerely, Thiago’ – rimos – Que fofo... E... Eu posso ver o que tem? – sorriu.
- Claro! Trouxe pra lhe mostrar.
Olhamos a caixa. Tinha muita coisa que nem eu lembrava mais que havia guardado. Cartas, fotos, muitos objetos, tudo o que fazíamos praticamente estava guardado naquela caixa. Em lembranças.
- Vou guardar para sempre. Mesmo como amigos, qualquer lembrança estará aqui. Até adultos, velhinhos... Enquanto estivermos vivos e juntos.
- Que lindo! E o seu namorado, tem uma caixa?
- Não... Na verdade, tenho uma outra caixa onde guardo várias coisas que também quero lembrar, então as lembranças do Lucas ficam ali. Afinal, nos conhecemos desde criança.
- E o Thiago é exclusivo... – riu.
- Desculpa amiga, mas a gente havia feito um combinado quando namoramos e não vou desfazer.
- Que combinado?
- Da caixa. Mas, é segredo. Que você sabe, mas não todo – rimos.
- Amiga, tá escrito na sua testa o amor que sente por ele. E ele por você, obvio. Sabe que quase desistiu da viagem...
- Ele é louco... – ri fraco.
- Vocês são loucos com todo esse vai e volta e essa história de começo e fim. Desculpa, amiga. Você pode amar muito o Lucas, mas não compara você e o Thiago juntos.
- Não vamos mais falar deles... Fala de você e o Gustavo. Ou talvez voce e o Léo.
- Eu e o Leonardo nunca aconteceu, Malu. Você sabe. Só foi loucura minha, eu e o Gus estamos muito bem. Eu amo tanto o seu primo...
Já tem um mês do Thiago fora da minha vida. Digo, fora do Brasil. E posso dizer fora da minha vida também. Desde quando viajou, só nos falamos uma vez.
- Vai ter festa hoje à noite no clube. Vamos. Chama a galera do Green e... – Gustavo atropelou meus pensamentos. E adivinha? Estava pensando no Thiago. E seu perfil do Facebook estava aberto na tela do meu computador – Hum... Por que não fala com ele? OThiago.
- Se ele não fala comigo, é por que provavelmente está feliz sem mim.
- Se você não fala com ele, é por que provavelmente ele pensa o mesmo.
- Você fala com ele?
- Sim.
- ME CONTA! – gritei. Gustavo riu.
- Não é muita coisa, só como está lá e ele diz que lá é incrível e tudo o mais... Tá complicado os estudos, é bem intenso e pensa em voltar às vezes... blá blá blá...
- Blá, blá, blá? Não fala de mim?
- Estava esperando você perguntar – riu – Sim, ele fala. Está louco de saudades – o inesperado sorriso aparece. Droga. E não é a primeira vez que isso acontece. Lembra, quando eu e o Thiago brigamos e o grupinho do colégio se separou? Meninas de um lado, meninos do outro... Fui conversar com o Léo e o Thiago estava lá. Ele disse que o Thiago ainda me amava e o maldito sorriso deu as caras. Eu nem pedi! – Viu? Oportunidade única pra falar com ele. Já sabe...
Acabei desistindo de ficar no computador e stalkear o Thiago. E também, não quero falar com ele agora. Resolvi curtir o que ia ter no clube, que após a grande reforma deu mais espaço para shows e festas. Quase todo o dia rolava alguma coisa, até fui chamada pra trabalhar na sorveteria de lá, que acabou de abrir e: é uma nova filial dos pais do JP, que estão cada vez mais ricos.
Falando na festa: foi muito legal. Consegui curtir com o Lucas e meus amigos, esquecendo o Thiago. Lembro dele quando falo que o esqueci, mas realmente não o esqueci, se parar pra pensar. Confuso, eu sei.
- Falou com o Thiago? – Gustavo perguntou.
- Não. Por que?
- Ah... Nada... Pensei que depois do que te disse, você quisesse falar com ele. Tudo bem então. To indo pra casa, você já vai?
- Nao. Vou ficar com o Lucas.
- Já vai, Gus? – Lucas chegou, com um copo de cerveja em mãos.
- Sim. Vou deixar a Camila em casa e vou dormir. Amanhã eu tenho uma entrevista de emprego de manhã – sorriu.
- Olha o cara! Vai trabalhar! Parabéns, irmão! – Lucas abraçou o Gustavo.
- Valeu. Bom, vou indo... Cuida da Maria Luisa.
- Luc... Já nao chega de beber?!
- Mal comecei.
- Já são duas da manhã.
- E...?
- E que já deve ser o milésimo copo que você bebe.
- Se você ficou o tempo todo comigo, percebeu que esse é o sexto.
- Mas você não tomou só cerveja.
- Ta... Tem conversado com o seu ex namorado?
- Ei, vamos falar de outra coisa.
- Tão bom saber que você tá comigo por tanto tempo, e tão ruim saber que você só pensa no outro que tá na França. Eu vejo as fotos dele no Facebook. E ele está feliz com a Letícia. A verdade é que o único trouxa na história sou eu. Continuo atrás de uma garota que não me ama.
- Eu te amo. Não fala besteira, Lucas.
- Mas e o Thiago?
- A gente não se fala mais...
- Duvido. Mas esquece.
Lucas ficou calado por um tempo, e bebendo a sua cerveja aos poucos. Três horas da manhã resolvemos ir embora, e eu resolvi dormir na casa dele.
- Sinto falta de estar com você, abraçadinhos, na minha cama... A gente conversava, dava risada... Namorava... Mas agora, não é mais assim. Ficamos sempre em silêncio. Isso, desde que o Thiago foi estudar fora – Lucas disse, logo após do banho que tomamos juntos. Já estávamos deitados em sua cama, mas em silêncio.
- Lucas... – me virei para ficarmos cara a cara - Não é bem assim. Mas também não quero falar com você sobre isso. Digo, sobre o Thiago. Só que... Eu sinto falta dele, sim.
- Mas isso é óbvio! E está estampado na sua testa.
- Luc... Vem cá... – o abracei.
E assim, pegamos no sono. Já eram quase cinco da manhã. Acordamos bem tarde, e eu só sei disso, por que a Cátia bateu na porta, falando “o almoço já está na mesa!”.
- Puta que pariu! – Lucas disse – que dor de cabeça! – rimos.
- Vamos... – falei bem sonolenta ainda – Já são... – olhei no celular – Uma e meia da tarde. Eu já tinha que estar em casa – ri.
Nos arrumamos tão rápido para almoçar. Depois, Lucas me deixou em casa e seguiu para a empresa dos seus pais. Sim, ele está trabalhando lá. Não é bem um trabalho, como ele precisa, já que está cursando Engenharia da Computação. Mas o que ele faz na empresa dos pais não chega nem perto de ser um engenheiro. Ele atende telefonemas e passa pros pais. Se não estiverem, anota o recado. SÓ ISSO. E ganha, ganha uma grana bem legal. Eu até quero um desse. Mas isso enquanto ele não arranja nenhum estágio na área.
E o Thiago, como está sobrevivendo com o curso lá na França? Fico com tanta vontade de saber dele...
- Malu – Gustavo entrou no quarto – preciso rapidão do seu notebook. O meu descarregou, mas é que eu necessito aceitar um documento rápido que não posso fazer pelo celular. E preciso voltar lá na empresa... Odeio burocracias!
- Calma amigo – ri alto – Pode usar.
- Me conta... Como foi o fim de festa? Chegou que horas? – Gustavo perguntou enquanto se concentrava no site da empresa.
- O fim de festa eu não vi. Fomos embora umas três e pouca se não me engano. Mas dormi na casa do Lucas. Cheguei nesse instante. Como foi a entrevista? Esse nervosismo é por quê?
- Eles estão quase aceitando. Mas, esqueci de confirmar uns documentos, eu preciso levar logo. E o Thiago, falou com ele?
- Não. Mas em pensamento, sim. Muito. No caso, eu pensei muito nele.
- E a certeza de que ele também fez o mesmo, é óbvia. Pronto. Confirmei. Vou indo. Valeu, meu amor – deu um beijo em minha testa – E fala com o Thi. Ele sente falta de conversar com você. Apesar de tudo, são amigos.
- Eu sei. Melhor ir, quanto mais rápido chegar, melhor pra você.
- Valeu.
Feliz pelo Gustavo. Quando ele chegou para fazer o curso, não imaginava que fosse morar aqui e agora, arranjou um emprego. E também, não imaginava me apegar tanto à ele. Coisa que não acontece com muitos primos que já conheço desde que nasci. Hoje, já não quero mais me afastar do Gustavo. Que também, faz muito feliz a Camila, uma grande amiga/irmã pra mim. Outra que não quero mais viver sem. Ela, que é tão sincera comigo e sempre me ajuda a resolver qualquer problema.
A aba do Facebook apitou. Alguém havia me chamado no bate papo. Corri para olhar. Me assustei com quem estava conversando comigo. Um simples “Hey”, já gelou meu coração.
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