Capítulo 24

Finalmente o São João! Dá pra perceber que eu amo festas. O problema das festas são as confusões que eu geralmente causo quando passo por alguma. Fomos até o clube e lá encontraríamos a galera do colégio e o Thiago. 

- Já viu quem veio? – Thiago perguntou. 
- Não. 
- O JP. 
- Aonde? 
- Pegando bebida naquela barraca. 
- Ah, acho que vou falar com ele. Posso? 
- Precisa pedir? 
- Ok – ri. 

- Hey sorveteiro! – o abracei. 
- Agora vai me chamar assim? – riu. 
- Não pensei que fosse vim... 
- Nem eu, mas o Lucas me chamou. Ele veio com uma galera do colégio, decidi vim também. A gente nunca mais se viu. 
- O Lucas está aqui? – perguntei assustada. 
- Ainda não chegou. Estou com a Luana, que foi ao banheiro. Você veio com o Thiago? 
- Sim. Ah. Eu... Ahm... Vou indo, a gente se esbarra por aí. Beijo. Tchau – mudei totalmente de humor e fui para onde estavam meus amigos. Ainda assustada. Não sei por que, mas não queria que o Lucas me visse agora com o Thiago. 

- Viu uma assombração? – Carol riu alto. 
- Não. Mas... Vamos até o banheiro comigo? Camila vem! 

Saímos correndo as três até o banheiro, antes que a "assombração" aparecesse. Estou em pânico. 
- Meninas, o Lucas vem ai! 
- E? – Camila disse como se isso não fosse nada importante. Mas é! 
- Encontrei o JP, ele sabe de mim e do Thiago, eu acho. Mas mesmo assim, o Lucas vem aí, ele vai me ver com o Thiago! 
- Não vejo motivos para esse auê. Uma hora o Lucas ia descobrir. O Facebook existe para isso e as fofocas existem para isso também. Ele ia descobrir de um jeito ou de outro. Mas se ele descobrir, o que é que tem? – Camila continuava sem dar importância. 
- Ele não vai gostar de saber! A gente ainda não se viu desde que cheguei e nós não publicamos nada no Facebook. Eu não queria... 
- Ele não é nada seu até que se prove ao contrário. Então não tem que falar nada. A vida é sua. Vocês só se pegaram e creio que não prometeu nada a ele, prometeu...? – Camila me olhou sério. 
- Não. Pelo que eu lembre... 
- Então não precisa ficar desse jeito! Vamos voltar! Vou te dar a real: o Lucas não é de se importar muito com isso. Ele supera rapidinho. Eu não o conheço muito, mas sei. 

Assim que saímos do banheiro o Thiago estava lá, parado. 

- Isso sim é assombração! – Carol disse e nós rimos. 
- Larga de ser encosto, Thiago! – Camila disse. 
- Vocês demoraram muito... 
- Somos três para um banheiro com outras mulheres usando. E paramos para bater um papo. 
- Certo... Pequena, vamos dar uma volta. 
- Tudo bem. 

Fui andando com medo do que poderia acontecer. Já pensou a gente se bate com o Lucas? 
FOI O QUE ACONTECEU. 
Achei que essas coisas só aconteciam em novelas, mas não. A vida real também nos surpreende com uma dessas. 

Malu! – me abraçou – E ai, Thiago – sorriu e o Thiago fez o mesmo – Bom te ver aqui. 
- Bom te ver também – sorri sem graça. 
- Ahm... Eu vou ali pegar uma bebida, a gente se esbarra por aí – rimos – Beijão. 

Foi algo leve, graças a Deus ele não falou nada que pudesse me comprometer. E por ter me visto com o Thiago, já deve ter percebido que a gente voltou. Realmente, ele supera rápido. 

- Ele está diferente – Thiago disse. 
- Eu não achei. 
- Claro, é o Lucas. Pra você ele nunca mudou. 
- Relaxa Thiago! Só dei a minha opinião. 
- E eu também, dei a minha. 
- Ah, claro. 
- Vamos voltar pra lá, já vi que você não vai querer ficar comigo hoje. 
- Eu posso ver se o pessoal do Green também veio? Gabriel, Isabela... 
- Faz o que quiser. Sei que não é por isso que quer ir – disse seco – Estou no mesmo lugar. 

Saí e deixei ele pensar o que quisesse. Se for pra voltar desse jeito não vai dar certo... Ele me prometeu que não ia ficar de implicância. 
O pessoal do Green não estava. Somente o Lucas e o Pedro. Gustavo estava lá também, conversando com os meninos. Afinal, são amigos. O Lucas me chamou para conversar a sós. Não curti a ideia, afinal o Gustavo estava lá e o Thiago estava por perto. Ele podia estar me vigiando... Ou contratou alguém para isso. Brincadeira. 

- Quer dizer que voltaram – Lucas disse. 
- É. Quem lhe contou? 
Gustavo, JP... E eu vi vocês dois de mãos dadas. 
- Ah. É isso que quer conversar? 
- Não. Queria saber se você está bem. Esse clube é massa! Ouvi dizer que vai ter show daqui a pouco – sorriu. 
- Estou bem sim. É verdade, vai ter show até anoitecer... 
- É. E já vi muitas gatinhas por aqui. Vou aproveitar! 
- Boa sorte. Vou voltar pro pessoal lá. Venho aqui depois ficar com vocês. Uma pena que a Isa e o Gabe não vieram. 
- Cada um está passando o São João em algum lugar. 
Voltei pra mesa. A Carol e a Camila vieram falar comigo pra saber o resultado dessa confusão. 

- O que o Lucas disse? 
- Nada demais. Ele até disse que viu umas gatinhas e vai aproveitar. 
- E você ficou mordida. 
- Desejei boa sorte. O que eu ia fazer? Tenho namorado. 
- Tem mesmo – Thiago apareceu me abraçando por trás. 
- Quando eu digo que ele sim é a assombração... – Carol disse e rimos. Menos o Thiago, claro. Ele não estava entendendo o assunto. E nem ia entender. 
- Carol... Se você está colocando a Malu pra cima de algum garoto, esquece. Por que como ela disse... 
- Pelo amor de Deus! Não coloque a culpa em mim! Não fiz nada. 
- Para Thiago! – Camila disse. 
- Do que vocês estavam conversando? 
- Nada demais. Não é tudo que eu preciso lhe contar. Conversa feminina. 
- Ah... É assim então... Beleza. 

Thiago saiu nervoso e foi ficar com a galera dele. Pelo visto, a gente vai brigar e não vai ser nada legal. 
Tentamos esquecer esse incidente para passar a festa tranquilamente. O Thiago esqueceu tudo e ficamos juntos toda a noite/madrugada que passamos no clube, curtindo os shows de forró. A Camila se divertiu muito dançando com os meninos, mas não ficou com ninguém, ela é tranquila, já a Carol... Ela por incrível que pareça, ficou no pé do Igor a festa toda, até que ele acabou voltando a ficar com ela. São fofos. 
Na última banda e a principal da primeira noite de São João, encontrei o Lucas aos beijos, quer dizer, amassos, não sabia distinguir o que seria aquilo que eles estavam fazendo, com uma loira que, diga-se de passagem, que loira! Os meninos ficaram babando. 

- Eu disse! – Camila riu. 
- Não precisa lembrar! 
- O cara é foda... Aquela não é a primeira – Leonardo disse. 
- Hum... Não precisa lembrar! – repeti. 
- Desculpa. Esqueci que você ainda... – Leonardo disse e Camila tampou sua boca para que ele não continuasse a frase. 
- A festa hoje foi cheia de surpresas – Thiago disse. 
- O Lucas é dos meus. Não sei como hoje ainda não nos encontramos numa festa – Leonardo disse rindo. 
- Um dia você vai encontrar alguém especial e sua pose vai mudar – Camila disse. 
- Por quê? – Leonardo perguntou. 
- Não sei. Um dia vai entender o que estou dizendo. 
Camila vai ser a garota, é isso que ela quer dizer – Carol riu alto. 
- Vai se foder, Carol! Não é isso. Esse menino não faz meu tipo. Só estou falando que ele não vai viver o tempo todo com essa faminha. Uma hora ele vai se apaixonar por alguém. O Lucas mesmo, ele é assim, mas é apaixonado pela Malu, se ela der uma chance pra ele... 
- O que não vai acontecer, pois ela está comigo – Thiago se intrometeu. 
- Posso terminar? Obrigada. Se ela der uma chance pra ele, esse jeito dele, acaba. O que vai acontecer com o Leonardo, quando encontrar a garota certa. 
- Você está doidinha pra ser ela – Carol disse. 
- E você está doidinha pra levar um murro – Camila disse nos fazendo rir. 

’0 Ficamos só conversando bobagens ao som da ultima banda de forró a noite passou voando! Me diverti como nunca. Apesar de estar numa boa com o Thiago agora, aposto que mais tarde ele vai querer conversar comigo. 
Acho que sou vidente. A gente conversou quando chegamos em casa, ás cinco da manhã. A conversa foi básica, não rolou briga. Ele já bebeu um pouco. Mas ainda bem que não passou da conta, como na viagem ao Rio. 

- Eu disse que ele nunca gostou de você – Thiago disse. 
- Você me disse isso hoje umas mil vezes. E ai, vai dormir aqui mesmo? Vou arrumar a cama pra você. 
- Estou sem condições de ir pra casa. A minha avó me deixou dormir aqui. Cadê a sua avó? 
- Ela já foi dormir. Acho melhor você tomar banho. 
- Você também precisa tomar banho, viu? Não foi o único que bebi por aqui, meu amor. 
- Eu sei meu amor, mas você bebeu bem mais. 
- Vamos tomar banho juntos? Sinto falta disso. 

Eu também sinto. Por isso aceitei. A minha avó estava num sono tão bom, que até trancou a porta do quarto. Entramos no banheiro, tiramos nossas roupas, ligamos o chuveiro no morno e tomamos o nosso banho. A cada beijo que dávamos tudo ficava mais intenso. Ele passava sabonete em mim e a cada toque seu me deixava mais arrepiada. 
Tomamos o nosso "banho" e fomos para o quarto. Eu estava com muito sono, mas se ele quisesse namorar um pouco, eu não me importaria. Não mesmo. 

- E ai, está com sono? – perguntei. 
- Hoje o dia foi intenso. 
- Mas foi divertido, vai! – rimos – Eu também estou. Já vai amanhecer não é? Ainda bem que a minha caminha é de casal. 
- Que lindo! Vamos sim! 

E passaram uns minutinhos o pôr do sol apareceu. Estava realmente maravilhoso! Fazia tempo que não via. 

- Desculpa os ciúmes bobos. Disse que ia maneirar, mas você sabe... – riu fraco. 
- Eu entendo. Desculpa também, por tudo. 
- Amo você. 
- Muito? 
- Pouco. 
- Também te amo pouco. 
Tiramos um sono delicioso e acordamos ás duas da tarde com a minha avó entrando no quarto e abrindo as cortinas. Fiquei com vergonha por ela ter me visto deitada com o Thiago, mas nem falou nada. Que bom. 

- O almoço está na mesa. Tive que acordar o casal – vovó disse abrindo as cortinas. 
- Dona Tereza! – falou assustado – Me desculpe, eu tive que dormir aqui. Chegamos muito tarde e... 
- Não se preocupe querido. Sabe que é da família. Vamos almoçar! – riu – A sua avó está aqui também. 

Ela desceu e fomos nos trocar. Ele estava com muita vergonha, depois de muito tempo relaxou e descemos para almoçar. 

- Dormiram bem? Pelo visto sim... Acordaram por minha causa. – ela e D. Dalva riram. - Vó! – ri. 
- A gente dormiu bem sim, D. Tereza. – sorriu sem graça. 
- Que horas chegaram? – Dalva perguntou. 
- Cinco da manhã. A gente ficou esperando o pôr do sol pra poder dormir. E se querem saber, estou com sono ainda. – rimos e eu concordei. 

Almoço em família é sempre bom. O Gustavo tinha telefonado hoje para dizer o quanto estava morrendo de saudades de todos. Foi muito bom ter falado com ele. Queria muito dizer que voltei com o Thiago, mas acho que não cairia muito bem para quem disse no fim da ligação que estava com saudades do que rolava no quarto da vovó enquanto ela não estava. E sabemos muito bem o que é. Ainda bem que não estava ao viva voz. 
Depois que o Thiago foi pra casa, decidi ir ao Green ver os meus amigos. Estava de férias e queria aproveitar que não estava fazendo nada no momento. 
Ao chegar lá me deparo com aquela mesma loira gostosa aos amassos com o Lucas na frente de sua casa. Depois de agora queria que aIsabela não morasse ao lado do Lucas. 

- Não vai falar comigo não? – Lucas disse sorrindo enquanto eu abria o portão da casa da Isabela. 
- É que você está muito ocupado, ia falar depois. 
- Depois? Sei... Estava brincando, besta – riu. 
- Ah. 
- O que eu fiz pra estar assim comigo? 
- Assim como? 
- Fria. 
- Desculpa. Vou aqui ver a Isabela, a gente conversa depois. 
- Espera! Vamos conversar, depois você fica com a Isabela. A Paola já estava indo embora. 

Ah... O nome dela é Paola. 

- Vai me deixar aqui, gatinho? – Paola disse com uma voz manhosa, passando o dedo pelo seu peitoral. Quase arrancava aqueles cabelos oxigenados. 
- A gente se vê mais tarde gata. A minha mãe está aqui. Não podemos entrar e... Ahm... Eu te ligo depois. 
- Por que ela pode entrar com sua mãe aí? 
- Ela é minha amiga, minha mãe a conhece. – deu mais um beijo nojento na put, ops, Paola e entrou comigo. Sinceramente eu não queria ir, mas fui. 
- Está com ciúmes? – Lucas perguntou enquanto estávamos subindo as escadas para o seu quarto. 
- Eu tenho namorado. 
- Não precisa ficar falando isso o tempo todo. Eu sei! Perguntei do que você viu agora. 
- Não fui com a cara dela. Só isso. Mas eu não posso reclamar, não posso falar nada. Eu tenho namorado e você pode viver a sua vida fazendo o que quiser, não é? 
- O bom é que você sabe tudo. 
- É só isso? Vou pra casa da Isa. 
Levantei mas ele me puxou. Nossos corpos ficaram tão colados que não restava um centímetro a menos. Podia sentir a sua respiração e estava com muita vontade de beijá-lo, mas não podia. Não podia mesmo. 

- Não negue – Lucas disse dando um sorriso cafajeste. Safado. 
- O que? 
- Você me quer. 

E eu nem pude responder. 
Ele me beijou. 
E eu deixei. 
Por um segundo, mas deixei. 
Estava mais que declarado que eu estava frita. 

- Por que você fez isso?! – gritei o empurrando pra cama. 
- Ui! Não me empurre assim, eu gamo... – riu – Mas você quis! Não nega! Se não quisesse não tinha me deixado beijar você! 
- Isso não importa! Você sabe que... Ah! Você sabe que eu tenho namorado! Não pode fazer isso! 
- Por que voltou com o Thiago? Coitado... 
- Eu o amo. Ele sim faz tudo por mim, pra me ver feliz. 
- O que quis dizer com isso? 
- Entenda como quiser. Eu preciso de ar... Vou sair. 

Desci as escadas correndo e nem falei com os pais do Lucas. Abri o portão da casa da Isabela e toquei a campainha rapidamente e ela abriu. Entrei em seu quarto com uma cara que ela já suspeitava o que tinha acontecido. Minha melhor amiga me conhece como ninguém. 

Lucas? 
- Ele me beijou. Quer dizer, a gente se beijou. E você sabe, eu... 
- Você voltou com o Thiago. E está ferrada! 
- O que faço?! – perguntei desesperada. 
- Não conta pro Thiago. 
- Não consigo. Ele vai perceber que alguma coisa aconteceu... E estou errada. Vou ter que ouvir calada. 
- O bom é que você sabe que está errada. Meu Deus! Por que você deixou isso acontecer, amiga? 
- Não resisti – ri fraco. 
- Sabia! – rimos alto. Não poderia fazer isso. 
- Vim aqui pra falar contigo, o Lucas me chama pra sua casa e começa a me seduzir... Ah, estou ficando louca! 

Mudamos um pouco do assunto e conversamos mais sobre ela. Tinha terminado com o seu namorado, de São Paulo, pois a distância estava ficando difícil. 
No caminho de casa, fiquei pensando no que contar ao Thiago, quando passei pela casa da sua avó, resolvi entrar pra falar com ele e contar logo a verdade, mesmo sabendo das consequências. Ele desceu as escadas com um sorriso lindo e me abraçou. Senti um aperto grande no peito. 

- Pequena! E aí, me conta como foi lá... – sorriu. 
- Ahm... Foi tudo bem. Como sempre. 
- Mas você nem demorou. Costuma demorar por lá... 
- É. Thiago... A gente pode conversar? 
- Entendi. Vamos lá... 

De repente, sua feição ficou séria. Tenho a certeza de que ele sacou alguma coisa. 

- Pode mandar bala. 
- Não foi minha intenção te machucar. Na verdade a culpa não foi minha! O Lucas... 
- Vocês se beijaram? 
- Sim. Quer dizer... Ele me beijou! Ele! Eu só... 
- Você continuou o beijo. Você gostou. 
- Não! Eu... Thiago me escuta... Ele me beijou! Eu o empurrei depois! 
- Depois que o beijou! Se você não quisesse, empurraria na hora em que ele veio lhe beijar. Mas não! Você quis! Você gostou! Dessa vez foi longe demais, Maria Luísa. Eu... Não tem perdão. Eu não vou brigar com você, a gente brigou o suficiente, mesmo sendo desnecessário. 
- Não foi por querer Thiago! Você ainda acha que eu lhe contei! 
- Mas é claro que você tem que me contar! Ia ficar escondendo que me traiu?! Me fazendo de otário, corno? Não quero mais conversar. Chega de explicações. Nada vai adiantar, então, por favor, sai da minha casa... – a sua expressão continuava a mesma. Mas dessa vez ele não olhava pra mim. 
***


A última semana de férias foi a pior de todas que já tive. O Thiago não queria falar comigo, eu estava me sentindo um lixo, o Lucas não quis nem pedir perdão pelo que fez, a Camila todos os dias falava coisas pra mim sobre o Thiago, me fazendo ficar mais triste ainda, a vovó e o Gustavo me culpando... E essa foi a minha ultima semana. Um lixo. 
A volta às aulas depois das férias de São João, assim que cheguei à sala, todos me olhavam. É como se a sala inteira soubesse do que fiz. E não foi nada demais! Quer dizer, foi, mas foi só um beijo, não foi “o” beijo. Na sala, o Thiago estava conversando com a Camila, a sua mochila estava no fundo como sempre fica e quando ele me viu chegar, saiu do lugar – que é onde sento – e foi pro fundo. A Camila continuava séria. 

- Você tem problemas sérios – Camila disse. 
- Me ajude ao invés de criticar. 
- Vou lhe ajudar em que? 
- Comece parando de me julgar. Você não sabe toda a história. 
- Claro que sei! Você me contou, esqueceu?! O Lucas veio, te beijou, você quis, continuou e depois percebeu que tinha namorado e parou o beijo. 
- Não foi bem assim! 
- Ok Malu. Por que continua fazendo isso? Você não se importa com o Thiago? 
- Claro que me importo Camila! 
- Não vou discutir... Eu não tenho nada a ver com isso. Mas se serve de consolo, vai falar com ele. Vocês passaram uma semana sem se falar, acho que você deveria mostrar mais interesse. Mostrar que ainda quer o perdão dele, que o quer de volta. A não ser que você não queira. 
- Eu quero! 
- Então vai! Aproveita que não bateu ainda pro primeiro horário. 
- E se ele for grosso comigo? 
- De verdade? Você merece. 

Thiago não estava mais na cadeira dele. Fui procurá-lo na quadra, e ele estava vendo o pessoal jogando. Assim que me viu, todos os seus amigos saíram e eu aproveitei o momento para conversar ali mesmo. 

- Eu preciso falar com você. Rapidinho. 
- Rápido mesmo. Cinco minutos. 
- Me perdoa. Você precisa entender que eu não quis beijar o Lucas. 
- Não fala isso novamente! Se é sobre isso, eu não quero saber. 
Thiago, por favor! Me escuta! Eu não beijei o Lucas! Ele quem veio pra cima e me beijou, eu o empurrei logo depois que... 
- Que percebeu que tinha um namorado?! 
- A Camila colocou isso em sua cabe... Espera... Tinha? Como assim Thiago! Você quer terminar? 
- Claro que sim. 
- Você está falando da boca pra fora. No fundo sabe que está errado em não me perdoar. Isso tudo é orgulho. 
- Pode até ser orgulho. Mas não vou ficar com você e ainda ter fama de corno. Aliás, já estou tendo se não sabe. 
- Todo mundo sabe? 
- Não. Só os amigos. Eu preciso ter alguém pra desabafar, além da Camila. 
- Me desculpa. Eu sei que foi errado, e você não estava lá pra ver, mas o Lucas quem veio beijar. Eu o empurrei! 
- Muda o disco caramba! Já sei disso, mas ainda assim. Pra mim acabou. Você pode gostar de mim... 
- Eu te amo. 
- Para... Olha, pode ir se quiser... Pode ficar a vontade com o Lucas. Vocês se amam e se merecem. Se for por minha causa, ta tudo bem. 
- Não quero ele. Eu quero você! 
- Já se passaram cinco minutos. Pra mim já deu esse assunto. Acabou, Maria Luísa. 

Ele saiu e me deixou, pensando em toda a nossa história e de como eu fui sempre à errada. Meus pensamentos foram cortados pelo Leonardo, que chegou já se intrometendo no assunto. 

- O Thiago está muito mal – Leonardo disse. 
- Não precisa repetir o que já sei. Também estou mal. 
- Eu sei que foi culpa do Lucas. Conversei com ele numa festa ontem à tarde. Naquela festa do São João, eu resolvi depois que você foi embora com o Thiago, falar com o Lucas. Afinal, eu disse que ele era bem parecido comigo em termos festivos, mais que o Thiago. Não que eu vá... Você sabe, o Thiago é meu amigo e o Lucas eu mal conheço. Poderá ser um parceiro, só isso. Enfim, o adicionei no Facebook e percebi que ia ter uma festa no domingo a tarde, uma Pool Party, em que ele também ia, então lá a gente conversou e como eu já sabia do ocorrido, perguntei ao Lucas. 
- E aí... 
- Eu falei “você beijou a Malu, cara... Sabe que ela namora!” Ele deu uma risada fraca e disse que não sabia o que tinha dado nele, no momento em que vocês estavam conversando. Ele disse que ama quando você fica bravinha – riu – Ahm... Aí ele disse que não se segurou e lhe beijou. Mas você o empurrou e disse que tinha namorado e que amava ele, coisa e tal... Enquanto falava, ele ficava todo nervoso, foi engraçado – riu – Foi isso. Contei pro Thiago hoje, ele sabe, ele acredita. Mas você o conhece assim como eu, vai demorar pra ele voltar a falar contigo e pedir perdão. Quer dizer, perdão não, mas... Você sabe. 
- Eu sei. Vou pra sala, daqui a pouco bate – olhei pro relógio, já eram sete e meia, com certeza o sinal ia tocar. 

Uma semana se passou e eu ainda não falei nada com o Thiago. Nem ele comigo, pra variar. Nosso grupinho no intervalo se separou novamente. Não entendo isso. 
A última vez que falei com ele foi no terceiro dia depois das férias, No Facebook, por que meu livro de química estava com ele e eu precisava para fazer a minha atividade. Aproveitei a conversa, que foi fria, para pedir que fossemos amigos. 

Maria Luísa Gomez: Thiago, boa tarde, meu livro de química está contigo, não é? Eu preciso dele pra minha atividade. Lembro que deixei na sua mão no dia da última prova de química antes das férias.
Thiago B: Sim. Eu peço pra minha avó entregar mais tarde quando ela passar aí.
Maria Luísa Gomez: Obrigada. É... Me desculpa mais uma vez. Vamos pelo menos ser amigos. Por favor?
Thiago B: Não. Ainda não estou pronto pra isso. Tenho que sair, eu vou pra casa dos meus pais. Tchau. 

***
Isabela ia pra São Paulo. Sua mãe ia fazer uma viagem a negócios no fim de semana e levaria a Isa e para não ficar sozinha, me chamou. A vovó deixou e dormi na casa dela para no outro dia bem cedo, partimos para SP. 
Assim que entramos no hotel, que era em frente a uma casa de show, tinha um outdoor de um festival que aconteceria no outro dia pela tarde naquele local. A gente viajaria no domingo pela manhã. Eu e a Isabela imploramos de joelho para sua mãe nos deixar ir. E... Ela deixou! 

O dia tão esperado chegou. O show começaria ás sete da noite, mas sabe como são as fãs, sempre madrugam na porta para conseguir um lugar bom e ficar perto do palco. Com a gente não foi diferente. Eu a Isabela chegamos bem cedo e já haviam algumas pessoas na porta. 

- Amiga, acho que as bandas ficarão no nesse hotel. É em frente e a maioria sempre fica nesse quando fazem show – Isabela disse esperançosa. 
- Será?! Ai amiga, tomara! 
- Desculpa intrometer, mas todos estão nesse hotel. A galera descobriu e estão fazendo de tudo para entrar e tentar algo com alguns das bandas. 
- Ai. Meu. Deus! Amiga, eles estão no nosso hotel! Minha banda predileta! Amiga! – abri um sorriso enorme e quase chorei. A garota que disse isso ficou assustada, mas depois percebeu que eu estava falando sério e se manifestou – Ahm... São desse hotel mesmo? Podem me ajudar a realizar um sonho? – ela nos explicou quem era seu ídolo e quase chorava. Ela era realmente fã dele. 
- Desculpa... Mas não posso... Você não está hospedada lá, não podemos fazer isso. A gente pode trazer um autógrafo, um vídeo... –Isabela sorriu. 
- Bom... Melhor que nada – riu – Obrigada, meninas. Eu sou Alice. 
- Ok então, Alice. A gente vai tentar algo lá no hotel, nos deseje sorte – sorri e ela nos abraçou forte. Como se nos conhecêssemos há anos. 

Pra entrar no hotel foi a maior burocracia, por que havia milhares de meninas na recepção e os recepcionistas não acreditaram que nós éramos hospedes. 

- A minha mãe que tem hospedagem aqui. Cristina Bittencourt Aragão – ele deu uma olhada no computador, depois pra nós, depois pro computador de novo e suspirou. 
- E o seu nome, qual é? 
Isabela Bittencourt Aragão Chavez. 
- Hum. Você é uma das dependentes. E essa outra? – Essa outra? Meu nome é Maria Luísa! 
- Sou Maria Luísa Gomez. 
- Hum... – ele mais uma vez deu uma olhada no computador e depois suspirou – Ok. Vocês não são nenhuma dessas fãs que querem fazer confusão no hotel. Podem entrar. As chaves aqui – entregou a chave e as meninas que estavam do nosso lado tentando convencer os recepcionistas ou pedir para entrar rapidinho e dar um abraço, ficaram reclamando – Elas são hospedes! Por favor, saiam daqui! Parem com tumulto. Só fica aqui quem é hospede ou vai se hospedar! Caso contrário... 

Algumas saíram reclamando, até que uma delas viu o cantor de uma das bandas que ia tocar no festival, e gritou, berrou, chorou e correu até ele, mas os seguranças tentaram pega-las. Sim, varias garotas correram. Eu queria correr, mas sou hospede e não sou groupie. E não sou louca até esse ponto. 

- Você não tem coração?! Deixa a gente dar um abraço nele! – o cantor sorria e pedia para o segurança soltar as meninas, ele ia tentar abraçar uma por uma. E foi o que fez. Todas saíram contentes e o hotel voltou ao normal. Acho que elas estavam lá por ele. 
- Vocês não querem uma foto? – o segurança perguntou. 
- Não... – eu disse nervosa. 

O cantor entrou rapidamente no hotel e nós também. A Isabela ficava cochichando para que eu falasse com ele. Afinal eu queria muito e tinha prometido pra Alice que ia fazer um vídeo. Ele se deitou no deck panorâmico e pegou um livro. 

- Não quero atrapalhar. Não tenho essa coragem – disse. 
- Olha... Coragem para outras coisas você tem, não é? Pelo amor de Deus, Malu! 

Depois dessa eu tinha que ir. Tomei coragem e fui falar com ele. Que estava lindo, por sinal. Não queria ter que incomodar. Ele estava lendo seu livro preferido. Olhava o pra trás o tempo todo e a Isa me mandava continuar. Resolvi sentar ao seu lado e dar uma boa tarde. Mas bem sem graça. Estava nervosa. Ele respondeu. Surtei por dentro. 

- Tem show seu mais tarde, não é? 
- Sim. Te vejo lá? – tirou o óculos de sol e sorriu pra mim. 
- S... Sim... Nos vemos lá! – dei um sorriso retardado. Ele riu fraco – Ah! Pode realizar um sonho para uma amiga?! Manda um beijo pra ela por vídeo? Por favor! O nome dela é Alice... E está na fila desde seis da manhã... – menti. Quer dizer, só a parte de que ela estava desde a seis. 
- Claro minha linda! – sorriu e comecei a gravar – Alice! Bom saber que vai pro show, meu amor! Espero que você se divirta muito, minha linda! Obrigada por tudo, ta? Um beijo enorme, eu te amo! – fez um coraçãozinho e soltou um beijo. Fechei a câmera e uma lágrima quase escapava. 
- Muito obrigada! – sorri. 
- Por nada! Eu tenho que subir e dar uma descansada. Daqui a pouco tenho que passar o som – sorriu – Tchau, linda. Esquece esse nervosismo, ok? Quero você bem feliz lá no show. 

E ele saiu. 
Fiquei parada ainda tentando não chorar e sem acreditar. 

- Conta TUDO! – Isabela disse dando pulinhos. Contei tudo e ela riu da minha cara – Mais tarde tem mais! A minha mãe conseguiu algo pra nós. Falei cinco minutos com ela pelo telefone e adivinha? Vamos ver o show do palco! Minha mãe é empresária, você sabe. Então, ela conseguiu com um amigo que trabalha por lá. A gente não precisa mais ficar o dia todo na fila! Podemos ficar na piscina... 
- É. Eu vou... Ainda não acredito – ri fraco – Ahm... Vou entregar o vídeo para a Alice e volto. Vem comigo? 

Quando saímos do hotel, a fila estava enorme! Procuramos a Alice no mesmo lugar onde estava e assim que nos viu, ela sorriu. 

- Viu ele?! Lindo, não? – sorriu – O hotel estava cheio de meninas. Algumas chegaram sorrindo, outras não... Se eu saísse daqui, era capaz de não conseguir nem um oi e perder meu lugar... Ahm... Vocês querem continuar aqui na frente? Eu... Não tem problema se ficar aqui... – pelo visto ela veio sozinha. 
- Você está sozinha? – Isabela perguntou. 
- Até agora, sim. Minhas amigas vêm depois... 
- Entendi. Ah, Alice! Viemos aqui por um motivo. Aliás, por dois. Isa posso falar contigo? – eu e a Isa fomos para longe dela e perguntei se ela poderia ficar no palco conosco. Isabela não queria, mas depois mandou uma mensagem pra mãe e ela deixou. Mas só ela, nenhuma de suas amigas poderiam ir junto. Voltamos e ela nos olhou confusa – Ok, viemos aqui por dois motivos: Um: Seu vídeo está aqui, ou seja, você tem um oi, um beijo, um “eu te amo”... – ri – E vou lhe mandar o vídeo para seu celular. Mas antes... Dois: A mãe da Isabela é empresaria e nos conseguiu um lugar no palco. Como você é muito gente boa, perguntei se não podia ficar no palco conosco e sim! Vocêpode! Mas suas amigas não... – parece que ela não se importou com isso. Levantou da onde estava por horas e nos abraçou. 
- Nossa... Não sei o que dizer, e nem como agradecer. Obrigada Isabela e... 
Maria Luísa, mas pode me chamar de Malu – sorri. 
- Obrigada, Malu e Isabela. Vocês estão realizando um sonho pra mim... Minhas amigas não são tão fãs, elas somente curtem as bandas e não quiseram vir comigo e ficar mais cedo... Então não me importo com elas no momento – rimos – Não quiseram vim cedo, perderam o lugar. Enfim, muito obrigada! Mesmo! 
- Não há de quê. Mas acontece que nós vamos ter que ir pro hotel. Ainda é cedo... O show só começa as cinco e ainda são duas horas. Não sei se posso te levar pro hotel... Quer tentar? Você não vai perder o lugar se sair daí, afinal... – Isabela riu. 

Nos levantamos e fomos. As meninas que estavam na fila e escutaram a conversa, ficaram cochichando depois. Sim, eu ouvi. O recepcionista não deixou que ela entrasse, então ligamos para a mãe da Isabela e ela autorizou. Mas mesmo assim, ela não pagou estadia, então não podia entrar. 

- Ahm... Tudo bem, meninas. Fizeram demais por mim hoje – riu fraco. 
- Não! Ei... – olhei o seu nome no crachá, era Luiz – Luiz, ela não vai dormir aqui! É só enquanto o show não começa às cinco da tarde! É daqui a três horas, mas ela desde seis da manhã está debaixo daquele sol! 
- Normas do hotel – Luiz disse. 
- Meninas, desencana... 
- Ok Luiz. Entendo... Pelo menos aqui, na recepção... Podemos? – Isabela perguntou. 
- Claro! 

Então lá ficamos. Por três horas. Conversamos muito e já adicionamos a Alice nas redes sociais. Pena que ela mora aqui em São Paulo, pois seria uma ótima amiga. Tiramos fotos, passei o vídeo para ela que não parava de ver e me agradecer e quando deu o horário, nós fomos ao quarto nos ajeitar e ela ficou a nossa espera. 

Não via a hora de pisar naquele lugar! De sentir aquele frio na barriga por estar indo num show dele e de todas aquelas bandas que eu gostava muito. Além disso, estava com a minha melhor amiga, então tudo ia ser perfeito! 

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